sábado, 8 de novembro de 2014

Fitoterapia

Hipérico como tratamento no climatério?

Dra. Ceci Mendes Carvalho Lopes*


          O hipérico, ou hipericão, (Hypericum perforatum), também denominado Erva de São João, é conhecido há cerca de 2000 anos e utilizado para distúrbios emocionais, desde então.  Hoje em dia, é reconhecida sua ação antidepressiva, e, como tal, empregado como tratamento para estados depressivo leves e moderados.
           O nome ‘perforatum’ decorre do aspecto das folhas, que, olhadas contra a luz, parecem apresentar vários pequenos orifícios.
       Embora anteriormente fossem utilizadas plantas selvagens, hoje utilizam-se plantas cultivadas. A parte utilizada são as folhas, flores e botões terminais.  Seus principais componentes são as hipericinas (substâncias do grupo das  naftodiantonas), e as hiperforinas, compostos instáveis, sujeitos a oxidação, aparentemente protegidas disso, na planta, pela presença de flavonóides, e, nos produtos farmacêuticos, pela adição de antioxidantes como o ácido ascórbico. As hipericinas têm atuação antidepressiva, porém podem, na dependência da sensibilidade pessoal, e da quantidade, causar fotossensibilização no usuário. As hiperforinas têm ação antidepressiva mais marcante do que a das hipericinas.
            Os produtos comercias usualmente são apresentados em comprimidos com 300 mg de extrato, padronizado por  90 mg de hiperforina, como ingrediente ativo1.

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            Entre os inúmeros outros componentes do extrato, encontram-se substâncias com atividade fitormonal, usualmente pouco citadas, justamente porque não são a parte com efeito antidepressivo. No entanto, por sua presença, surgiu a ideia de utilizar  hipérico no tratamento de mulheres sintomáticas climatéricas.
            Em breve revisão da literatura internacional, pelo PubMed, observamos que a primeira publicação com essa finalidade data de 1999, destacando bons resultados , em estudo de 12 semanas, utilizando 3 doses de 300 mg ao dia, em 111 pacientes climatéricas, nas quais predominavam sintomas emocionais, além de sintomas vasomotores2.
           Já em 2010, é apresentado estudo duplo-cego, controlado por placebo, por 8 semanas, com um total de 100 pacientes, obtendo resultados  significativos (p<0,001) na redução da freqüência e grau das ondas de calor3.
         Recentemente, em 2014, foi feita uma metanálise, avaliando estudos publicados no Pubmed, Cochrane Library, Embase e Web of Sciences, que concluiu pela eficácia do hipérico contra os sintomas climatéricos, com menos efeitos adversos que o placebo4.
            Tambem foram realizados estudos associando hipérico a outros fitoterápicos.  Em 2009, a erva de são João e a pimenta dos monges (Vitex agnus castus), que também apresenta propriedades fitormonais, porém relacionadas à prolactina. A intenção era observar mulheres pré-menopaus, com sintomas da síndrome pré-menstrual. O estudo foi realizado num grupo de apenas 11 pacientes, por 16 semanas,, demonstrando superioridade do tratamento com os extratos, em comparação ao placebo, concluindo-se haver um resultado promissor5.
            Outro estudo, em 2010, comparou hipérico (30 pacientes) com maracujá (29 pacientes), em mulheres pós-menopausa, por 6 semanas. Os dois tratamentos trouxeram melhora, porém sem diferença estatística entre os grupos6.
            Foi ainda feita revisão sistemática de estudos publicados em vária fontes, comparando hipérico, pimenta dos monges e actéia (Cimicífuga racemosa), concluindo que tanto actéia como hipérico, como agnus castus, isoladamente, não oferecem vantagem, mas que a ssociação com hipérico produz efeito significativo no tratamento sintomático do climatério7.
            Em nossa experiência pessoal, tivemos ocasião de utilizar os medicamentos padronizados à base do extrato de Hypericum2 a 3 comprimidos ao dia, em pacientes com contra-indicação para o tratamento hormonal, e com predominância de sintomas emocionais, no seu quadro sintomático do climatério. O resultado obtido tem sido favorável, de modo geral.
            Acreditamos que vale a pena investir em estudos bem desenhados, com duração mais prolongada, pois podemos ter em mãos um recurso bastante útil, especialmente para mulheres que não possam, ou não desejem, submeter-se ao tratamento com hormônios. Temos de levar sempre em conta as contra-indicações da erva de São João, especialmente a fotossensibilidade, em casos específicos, e a interação medicamentosa, especialmente com antivirais.

* Dra. Ceci Mendes Carvalho Lopes, é Ginecologista Assistente Doutora da Clínica Ginecológica do HCFMUSP, especializada em Fitoterapia Ginecológica. Contato:  ceci.lope@hc.fm.usp.br


Referências

1-   Schultz V, Hänsel R, Tyler VE- Fitoterapia racional. Editora Manole, São Paulo, 2002 pg57
2-   Rube B, Walper A, Wheatley D- St.Johns’s Wort extract: efficacy for menopausal symptoms of psycological origin. Adv Ther 1999; 16(4):: 177-86
3-  Abdali K, Khajehei M, Tabatabaee HR- Effect of St John’s Wort on severity, frequency and duration of hot fleshes in premenopausal, ,perimenopausal and postmenopausal women: a randomized, double-blind, placebo-controlled study. Menopause 2010; 17(2): 326-31.
4-   Liu YR, Jiang YL, Huang RQ, Yang JY, Xiao BK, Dong JX- Hypericum perforatum L. preparations for  menopause: a metanalysis of efficacy and safety. Climateric 2014; 17(4): 325-35.
5-  van Die MD, Bone KM, Burger HG, Reece JE, Teede Hj- Effects of a combination of Hypericum perforatum and Vitex agnus castus on PMS-like symptoms in late-perimenopausal women: findings from a subpopulation analysis. J Atern Complement Med 2009; 15(9): 1045-8
6-   Fahami F, Asali Z, Aslani A, Fathizadeh N- A comparative study of the effects of Hypericum perforatum and pssion flower on the menopausal symptoms of women referring to Ishafan city health care centers. Iran J Nurs Midwifery Res 2010; 15(4): 202-
7.-  Laakmann E, Grajecki D, Doege K, zu Eulenburg C, Buhling KJ- Efficacy of Cimicifuga racemosa, Hypericum peforatum and Agnus castus in the treatment of climacteric complaints: a systematic review. Gynecol Endocrinol 2012; 28(9): 703-9.