segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Entrevista com a Dra. Ceci Lopes

Dra. Ceci Lopes é a presidente da SOBRAFITO - Sociedade Brasileira de Fitoterapia. Ginecologista da Clínica Ginecológica do HCFMUSP, responsável pelo curso de Fitoginecologia que vai ser realizado em novembro de 2010, em São Paulo no Centro de Convenções Rebouças entre os dias 9e 11 daquele mês.

1)Quais são as grandes diferenças entre os medicamentos fitoterápicos e convencionais, além da sua origem vegetal?

Medicamentos fitoterápicos são produzidos a partir de plantas, ou partes de plantas, geralmente produzindo-se extratos com padronização, ou seja, é necessário que haja quantidade equivalente dos produtos ativos sempre que esses medicamentos sejam utilizados. É identificado o princípio ativo, a sua ação, eventuais efeitos adversos, toxicidade, tudo exatamente como se faz com qualquer outro medicamento convencional, os chamados "medicamentos sintéticos". É necessário que seja comprovada sua atuação terapêutica por estudos científicos com o melhor embasamento possível. E que obedeçam a regulamentação, da mesma forma que os medicamentos convencionais.

2) Durante muito tempo a fitoterapia não recebeu muito crédito da própria classe médica. O que mudou esse modo de pensar?

Os fitoterápicos foram a primeira forma de remédios utilizados pela humanidade, há milhares de anos. Porém, sempre foram utilizados com base apenas na observação e experiência do profissional de saúde. Com o advento da indústria química, começaram a ser produzidos agentes terapêuticos com características precisas, e os fitoterápicos foram sendo abandonados, como "coisa de antigamente", sem credibilidade. Apesar disso, inúmeros medicamentos comuns são originários de fitoterápicos, ou por purificação, ou por modificação química. No entanto, à medida que se foram fazendo estudos científicos com eles, e estudando-os nos mesmos moldes que se faria com qualquer outro medicamento, foi sendo estabelecido um novo panorama, confirmando, ou descartando a real eficácia dos produtos originados de fontes vegetais.


3) Qual o papel da fitoterapia na vulvovaginite? Quais são suas vantagens sob os agentes já utilizados tradicionalmente?

Entre os produtos de origem botânica, muitos possuem efeitos antissépticos, anti-inflamatórios e mesmo semelhantes aos efeitos dos antibióticos. Assim, as pessoas os utilizavam, de vários modos, como, por exemplo, para banhos. Após observação criteriosa, pelos métodos baseados em evidências, foram sendo desenvolvidos medicamentos utilizando essa matéria prima, que estão disponíveis no arsenal farmacêutico. Por exemplo, há produtos comerciais com base no trigo, na camomila, na aroeira, e outros. São eficazes e nem sempre apresentam tantos efeitos adversos como outros produtos sintéticos.


4) Quais são as outras principais aplicações da fitoterapia em Ginecologia?

Quase se pode dizer que fitoterápicos são aplicáveis em qualquer campo da Medicina, assim como na Ginecologia. Vários medicamentos quimioterápicos, utilizados para o tratamento do câncer, são de origem vegetal. Utilizam-se outros para atividades realcionadas ao sistema nervoso, como tranquilizantes, antidepressivos, indutores do sono. E geralmente com muito poucos efeitos indesejáveis, e sem indução a hábito ou dependência. Nos sintomas da menopausa, também há grande aplicabilidade, especialmente para mulheres que não desejam, ou não possam, utilizar hormônios.